Diário do Nidalion - 9º Dia na Resistência

 14º dia de Donis do ano de 71 da Era do Fogo

Já tem dois dias que sigo com essa cólica desgraçada e enjoo. Não consigo acreditar que aquele aarongar tenha me atingido forte suficiente para eu ficar tão mal assim por tanto tempo. Eu já enfrentei pelo menos 5 desses em combate e mesmo ferido não fiquei tão mal depois de tantos dias depois. Só consigo seguir imaginando que é a maldita falta de água salgada que me deixa sensível. Me sinto exposto. Como se toda minha pele tivesse sido arrancada e meus músculos estivessem expostos a poeira suja desse mundo seco.

As vezes sinto um pouco de medo. Medo do que pode me acontecer nas próximas semanas. Medo de que algum membro da Resistência me considere um risco grande demais e que eu não deva continuar vivo. Dormir próximo do Athel sempre foi confortável, mas agora é uma questão de sobrevivência, porque sempre termino de escrever nesse diário espero a faca gelada de algum descontente me cortar a garganta durante o sono. O branquelão me faz bem, e ao mesmo tempo consigo dormir sabendo que talvez estar com ele afaste essa ideia de outros descontentes.

https://www.thorbearart.com/far-away-journey

Tenho outros medos. Medo de que se eu voltar para Trion eu seja considerado um desertor, um membro da maior nação que já existiu no mundo nesse mundo que largou tudo para viver feito um sapônico, pulando de brejo em brejo sem rumo. Bel falou muito bem sobre a liberdade que ele espera que todas as raças possam ter, mas não me coloca na cabeça ter que abrir mão de tantas coisas para que isso possa acontecer. Trion fez tanto por tantos, e mesmo assim, são considerados monstros e genocidas por perpetuar os serviços forçados de aarongares. Todo povo do continente que passou por um porto já comeu, bebeu ou comprou algo de origem de esforço de aarongares, então porque meu povo que está tomando toda a culpa por esse sistema?

Eu passo os dias com medo e pensando em como os próximos eventos vão influenciar o resto da minha vida. Sinto medo e solidão grudadas no meu couro o tempo todo. Quase o tempo todo. Quando estou com o draconico albino me sinto com menos medo ou solidão, mas mesmo na presença dele, ainda sinto a solidão que permeia ele. Uma camada grossa que faz dele uma individuo quase separado de tudo e todos. Soturno e as vezes distante, a minha solidão parece nem se comparar a solidão que talvez ele sinta.

Sinto um medo enorme crescendo dentro do meu corpo, cada dia maior e mais forte. Um medo que toma forma e se eu não me controlar, ele com certeza vai me controlar. Que assim seja.

- Nidalion, o Mestiço