Destrinchando Personagem - Ivan “Zoppe” Anatoly [PARTE 2]

Essa é a segunda parte do texto falando sobre o personagem Ivan. A primeira parte segue no link abaixo:

https://secretariadoloker.blogspot.com/2021/05/destrinchando-personagem-ivan-zoppe.html


Lealdade foi uma das palavras que grudou na minha cabeça e me fez pensar o quanto a lealdade do Ivan podia ser vista como fraqueza ou simples infantilidade, mas sinto as vezes que a lealdade que eu tenho na vida é vista dessa maneira. O ato de se entregar para pessoas ou grupos por lealdade e se comprometer acaba caindo para esse lado. De todos os meus personagens, o Ivan é o que bebe comigo a mesma agua amarga da vida em muitas situações. Essa reflexão toda é a primeira parte do personagem, que tomou a maior parte do tempo das sessões inclusive.

Tratando talvez da segunda parte do personagem que construí deliberadamente e de cara me pareceu muito desafiador era; como seria interpretar dois personagens, onde um é filho e o outro pai?

Essa proposta ficou bicando na minha cabeça por um tempo, até que decidi inserir esse personagem que seria o filho do Ivan em outra mesa sem muita pretensão. Nesse momento comecei a pensar em como essa outra pessoa existia, era filho desse personagem e eles não se conheciam? De cara pensei no clichê de pais e filhos que não sabem da existência um do outro até que algo revela para ambos essa informação. Desconsiderei a ideia e parti para a ideia de que sim, o Ivan sabia que tinha um filho, mas nunca conheceu pessoalmente. Qual o motivo? Nesse momento viria a interpretação do personagem.

Não só o Ivan sabia da existência do filho com sua ex esposa, como tinha hipóteses de onde ele poderia estar ou viver. Infelizmente de todas as qualidades e defeitos desse personagem, essa situação em especifico coloca em evidencia o medo do Ivan de confrontar sua procrastinação de tomar responsabilidades. Quando ele descobre que sua ex esposa morreu quando filho tinha 10 anos, ele percebe que essa pessoa que seria seu filho não teve uma figura que poderia servir de apoio, acalento e segurança. A hipocrisia é ele passar uma vida inteira sendo marujo, depois capitão de um navio onde as vidas de dezenas estão em suas mãos, mas a vida mais importante para ele nunca recebeu a atenção merecida. Ele sente o peso das escolhas que fez, e sabe muito bem que os caminhos que ele seguiu só afastaram ele o suficiente para não ter mais volta.

Escrevendo esse texto vejo que tento sempre fugir do clichê com esse personagem, mas a tentativa maior de fuga de clichê foi não cair no “reencontro de pai e filho que tem abraço e feliz para sempre”. O personagem sabe que não existe isso, que o filho dele nem sabe que ele existe, e se souber, não vai nutrir qualquer sentimento positivo. São personagens que não quero que se encontrem, não espero redenção para nenhum dos dois, porque a vida tem esses momentos. Pais e filhos nem sempre se amam, nem sempre se conhecem ou se respeitam e no fim das contas quando a idade vem, o preço de suas escolhas vem. Ivan tem esse peso no peito por ter feito pelos outros muito mais por quem era do seu sangue, e não quero dar para esse personagem o alivio sem cobrar um preço alto.

Ele parece o mais complexo dos personagens, e talvez até seja, mas de todos ele me parece o mais mundano. Um homem do povo e que você talvez conheceria em uma conversa de bar ou em um pesqueiro. Um tiozão que tem seus pesos na consciência, mas se responsabilizar por suas escolhas. Sim, ele é um pirata com espada magia, mão feita de agua e atira com uma besta com cabeça de lince, mas de todos os personagens ele é com certeza o que mais me sinto livre e deixar solto, e talvez o que eu tenha mais medo de me despedir em algum momento.


- The Loker

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