CRONICAS DO ULTIMO BARDO - Parte 1: Guizos




    A vida de um bobo não é fácil sabia? Sim, também é aceito o termo arlequim ou bufão (não que eu prefira já que no fim o termo usado é sempre “bobo da corte”). Meu nome é Rennan van Voth, mas os nobres me chamam pelo apelido; Bobo Renn. Enfim, a vida de um bobo realmente não é fácil sabia? Entreter homens e mulheres que com um simples estalar de dedos podem desfazer o pouco de minhas posses é estressante, uma vez derramei vinho nas vestes de uma nobre vinda das terras do norte, somente não fui decapitado pelo apreço que o rei tem pela minha existência (e não é apresso pela minha pessoa como um individuo já que ele não sabe o quem sou além de ser seu bobo). Depois de tanto tempo entre esses homens percebo que o poder é entediante e enlouquecedor, como estar preso em uma cela escura somente com o som de gotejar constante.

      Comecei como um bardo (ou um poeta de rua), cantei muitas baladas em estalagens e tavernas das vielas da capital, até ser convidado para meu atual cargo pelo Conselheiro do Rei em uma de suas bebedeiras (um homem excepcionalmente, mas chato quando sóbrio). Cantei duas canções ao Rei e fui admitido como seu novo artista na corte. Vesti as roupas e pintei o rosto, e desde então nunca mais sorri com sinceridade, digo, não sou mais um homem feliz como já fui. No “Punho do Gigante” eu era aclamado em palmas e recebia gorjetas em forma de cobre ou cerveja, aqui sou simplesmente “o bobo do rei”, entretenimento sem nome em prol da corte. E o engraçado disto tudo é que é um serviço para a vida toda, minha única demissão é a morte, seja por causas naturais ou naturalmente com uma espada furando minhas tripas.

      No começo eu entretinha pelo prazer dos risos e gargalhadas, hoje o pouco que consigo fazer é por pura zombaria e desprezo que tenho por estes que me cercam e me vem como um objeto feito para gracejos e piadas, sem emoções ou sentimentos, eles me veem como um animal adestrado e brincalhão, implorando por atenção e que deve cumprir suas ordens sempre.

      Meu dilema é um dilema bobo, de um homem pequeno; “O que é melhor realmente? Qual o sentido para tudo isso? Ser o Bardo rei da merda ou o Bobo merda do Rei?” Já não sei mais o que fazer, as canções perderam a melodia, os contos e historias perderam a magia, minha dança é mecânica e sem vida, meus olhos refletem um homem sem vida e meu guizos, meus guizos não tocam mais o som da alegria, mas o da agonia, pois sou um homem preso no corpo de um bobo.

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